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Ler: uma revolução no cérebro

20 de novembro de 2015 //

Um grupo de pesquisadores liderado pelo neurocientista Maximilian Riesenhuber, do Centro Médico da Universidade Georgetown, observou o cérebro de 12 indivíduos por meio de exames de ressonância magnética funcional (fMRI). Eles se concentraram numa pequena região envolvida no reconhecimento de símbolos linguísticos, conhecida como “área da forma visual das palavras” (VWFA), localizada na superfície cerebral, atrás da orelha esquerda. A VWFA análoga no hemisfério direito é a região facial fusiforme, que nos permite reconhecer faces. Em crianças pequenas e pessoas analfabetas, ambas as regiões respondem a rostos. À medida que aprendemos a ler, a área VWFA é incorporada para o reconhecimento das palavras.

Os pesquisadores apresentaram aos participantes uma série de termos reais e inventados. As palavras sem sentido ativaram respostas de um amplo conjunto de neurônios nessa região, enquanto subgrupos diferentes de células neurais reagiram aos termos conhecidos. No entanto, depois que os voluntários foram treinados para reconhecer as pseudopalavras, os neurônios responderam a elas como se fossem reais, segundo artigo publicado em março no Journal of Neuroscience. Riesenhuber diz que os termos sem sentido não tinham nenhum significado, assim ele deduziu que as células neurais respondem à ortografia das palavras (como se parecem), e não ao seu significado.

Então, à medida que nos tornamos mais proficientes na leitura, construímos um dicionário visual na área VWFA, enquanto acumulamos um catálogo de rostos familiares no lado oposto do cérebro.

O som das letras

A escrita nos permite criar e compreender as palavras sem ouvi-las. Certo? Não totalmente, segundo um estudo da Universidade de Pavia, na Itália: a sonoridade das palavras é um elemento essencial para a leitura.

Quando ouvimos alguém falar, a atividade neural se correlaciona com o “envelope de som” de cada palavra – a flutuação do sinal do áudio corresponde à variação do funcionamento cerebral ao longo do tempo. O neurocirurgião Lorenzo Magrassi e seus colegas submeteram 16 indivíduos a eletrocorticografia (ECoG) – uma técnica invasiva na qual os eletrodos são colocados cirurgicamente no cérebro – e mediram a atividade neural diretamente da superfície da estrutura geradora de linguagem, conhecida como a área de Broca, enquanto os participantes liam um texto em silêncio ou em voz alta.

O funcionamento mental se correlacionou com o envelope de som do texto que liam, o que foi gerado bem antes de dizerem algo e mesmo quando nem planejavam falar, segundo artigo publicado em fevereiro na Proceed-ings of the National Academy of Sciences USA. Ou seja, a área de Broca respondeu à leitura silenciosa de maneira bem similar à qual neurônios auditivos reagiram ao texto dito em voz alta, como se essa estrutura cerebral gerasse o som dos termos para que os leitores pudessem ouvi-los internamente. A descoberta reacende um debate: o significado simbólico do conjunto de letras é codificado no cérebro por um padrão neural ou por atributos mais simples, como sua sonoridade? Os resultados reforçam as evidências de que as palavras são fundamentalmente processadas e catalogadas por formas e sons básicos.

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