A influência do ambiente sobre o cérebro
Antes do nascimento e logo nos primeiros anos de vida, o cérebro está em fase de desenvolvimento e é extremamente sensível ao meio ambiente. Um simpósio realizado em Nova Iorque, 5ª Annual Aspen Brain Forum, organizado pela New York Academy of Sciences, expos como certos aspectos sociais e psicológicos do ambiente influenciam no comportamento humano.
De acordo com Tracy L. Bale, professora da Universidade da Pensilvânia, o estresse materno durante a gravidez está associado ao aumento do risco de desordens no desenvolvimento neurológico do bebê, como autismo e esquizofrenia.
Para ela, estudos com animais podem ajudar a encontrar soluções e diminuir os riscos. “Os roedores podem perceber, processar, e reagir de modo semelhante às reações humanas. Isto pode contribuir para os avanços destes estudos”, conta Bale.
Nestes animais, o período de gestação (equivalente ao primeiro trimestre da gravidez humana) é sensível para efeitos específicos do estresse materno, pois esse mal estado psicológico pode agir através da placenta e interferir no desenvolvimento cerebral.
Por exemplo, a enzima O-N-acetilglucosamina (OGT), que ajuda a construir proteínas a partir de esquemas de DNA, pode sofrer alterações como consequência do estresse materno, que significa uma ameaça ao desenvolvimento do embrião.
“Mudando apenas um gene na placenta é possível reprogramar a forma como o cérebro está se desenvolvendo”, afirma Bale.
Sendo assim, o ambiente pré-natal deve preparar um animal (ou humano) para o mundo. Estes estudos sugerem como o estresse materno pode inviabilizar o processo de desenvolvimento do embrião, levando a problemas durante toda a vida.
O custo da negligência
Para Charles A. Nelson, da Universidade de Harvard, a negligência na infância representa uma situação em que o cérebro é privado de experiências, necessárias para seu desenvolvimento nos períodos mais sensíveis de formação.
“O desenvolvimento do cérebro pós-parto é um período fortemente dependente da experiência de oportunidade ou de vulnerabilidade”, diz.
Nelson relatou resultados do projeto Bucharest Early Intervention, um ensaio clínico envolvendo 136 crianças abandonadas ainda recém-nascidas a instituições na Roménia. Os bebês de 6 a 31 meses foram colocados em lares adotivos de alta qualidade, enquanto o restante permaneceu em atendimento institucional.
Após 12 anos da pesquisa, os pesquisadores encontraram diferenças entre os dois grupos, no que se diz à estrutura cognitiva e funcional do cérebro destas crianças.
No geral, “a exposição à institucionalização no início da vida leva a uma redução no eletroencefalograma (EEG) de energia, substância cinzenta e branca, e conectividade”, disse Nelson.
Uma análise feita pelo EEG exemplificou a importância do timing. As crianças colocadas em famílias de acolhimento antes de 24 meses mostraram atividade cerebral no lobo frontal tão frequente quanto aquelas que nunca tinham sido “institucionalizadas”.
Recentemente, os pesquisadores analisaram dados de resposta ao estresse. O cortisol, um dos marcadores desse mal estado psicológico, apresentou maior sensibilidade ao tempo de colocação familiar.
Com isso, os especialistas chegaram à conclusão de que os déficits cognitivos são, em sua maioria, consequências das experiências logo nos primeiros anos de vida. Portanto, tanto o período da gravidez quanto o pós-parto refletem no desenvolvimento cerebral.
Tradução: DANA Foundation
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