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Ginástica cerebral funciona?

27 de junho de 2016 //

O Método SUPERA existe há uma década. Ao longo desses anos todos, transformamos a vida de milhares de pessoas, colhendo os resultados e aprimorando nosso método a cada dia, com o apoio e o comprometimento de uma equipe multidisciplinar de educadores, pedagogos e neurocientistas. Respaldados em evidências científicas, criamos roteiros de aula que promovem o desenvolvimento de competências cognitivas, socioemocionais e éticas.

Hoje, temos à frente de nosso departamento pedagógico nacional a pedagoga e cientista social com ênfase em educação Solange Jacob, pesquisadora em processos cognitivos pela Universidade Europeia Miguel de Cervantes, de Valladolid, na Espanha.

Nesta entrevista, Solange fala sobre os estudos relacionados ao funcionamento e ao desempenho do cérebro, mostrando como a estimulação cognitiva é importante para a saúde mental e a qualidade de vida.

Segundo ela, os dados atualmente conhecidos levam a crer que estilos de vida que combinam atividades cognitivas estimulantes com atividades físicas, alimentação equilibrada e boa rede social oferecem a melhor chance de preservação do funcionamento do cérebro.

SUPERA: Ginástica cerebral funciona?

Solange Jacob – Antes de mais nada, é importante entender o que é ter um cérebro bem exercitado, estimulado e funcional. Em outras palavras, isto significa ter um cérebro funcionando de modo que te permita se desenvolver no ambiente, nas situações que enfrenta a cada dia e aquelas a que estamos sujeitos a enfrentar em alguns anos (ou talvez décadas). Então, é evidente que potencializar a capacidade do cérebro é importante para a vida presente e para toda a vida.

Cuidar do cérebro não é tarefa somente para quem tem 60 anos ou 70 anos e, sim, para todas as idades. Explico: primeiro, o funcionamento tanto executivo quanto emocional do cérebro interfere na sua capacidade de:

Gerir situações estressantes;

Ter foco e boa atenção sustentada para evitar distrações;

Persistência na execução de planos de ação;

Habilidade em flexibilidade mental;

Elaboração de estratégias eficazes;

Boa organização e planejamento;

Facilidade e criatividade para resolver problemas;

Seleção e controle de respostas;

Análise de consequências a longo prazo;

Habilidade na regulação emocional;

Capacidade de reconhecer e gerenciar emoções, de prosperar, ter sucesso em cada momento da vida, pessoalmente e profissionalmente, no século 21.

Em segundo lugar, há evidência crescente de que a variedade e a complexidade do que fazemos em cada etapa da vida tem um impacto sobre o funcionamento do cérebro. A forma como você trata seu cérebro hoje pode afetar seus anos de saúde mental. E aí, sim, eu posso responder mais objetivamente à sua pergunta: ginástica cerebral funciona? A base da ginástica cerebral – no consenso internacional – segue os princípios de novidade, variedade e desafio crescente.

No SUPERA, nós trabalhamos estes três princípios e também atividades para o desenvolvimento de competências socioemocionais, que podem contribuir para a transferência dos benefícios da estimulação cognitiva para as situações da vida prática. E esta é a busca dos estudos atuais: comprovar esta transferência, ou seja, mostrar que as competências adquiridas no treinamento cerebral podem ser aplicadas à vida prática.

SUPERA: Em que direção caminham os estudos sobre o funcionamento do cérebro e os exercícios para o cérebro?

Solange Jacob – Existem muitos estudos em andamento sobre este assunto no Brasil e no mundo. Apoiados em evidências científicas, nós que estudamos o funcionamento do cérebro estamos buscando uma abordagem mais ampla que enfatize uma visão do cérebro funcional – mais integrado e harmonioso – que melhore o desempenho cognitivo, que seja possível de transferir essas habilidades para as atividades diárias e melhoria da autoestima.

A expectativa é de que o exercício cerebral possa impactar na construção da reserva cognitiva, não somente para a prevenção de demências, mas também englobando a trajetória ao longo da vida de um cérebro saudável e com alto desempenho.

Desta forma, uma abordagem mais ampla significa uma estimulação cognitiva que engloba diversas formas de exposição do indivíduo a diferentes aspectos do ambiente, tendo como resultado a manutenção ou o aprimoramento de seu desempenho cognitivo. Essa exposição pode ser a estímulos específicos ou a situações sociais complexas.

SUPERA: Exercitar o cérebro previne doenças?

Solange Jacob – Dados da literatura (pesquisas científicas) indicam que envolver-se em atividades estimulantes do cotidiano reduz o declínio cognitivo e pode reduzir o risco de desenvolvimento de demência. Um estilo de vida ativo e ocupado parece ter ação neuroprotetora, uma vez que declínio cognitivo é adiado ou reduzido nos indivíduos que apresentam maior grau, por exemplo, de atividade física.

Da mesma forma, a atividade mental estimulante costuma estar ligada a redução do risco de declínio cognitivo, o que parece estar relacionado com o conceito de reserva cognitiva, já mencionado. Daí, supõe-se que leitura, os jogos, os instrumentos musicais ou mesmo a prática da meditação são recomendáveis para atingir esse objetivo.

As prioridades do funcionamento executivo do cérebro mudam com a idade e isso é parte do desafio e da oportunidade: muitas crianças têm necessidades especiais de aprendizagem para lidar, por exemplo, com o déficit de atenção ou problemas de gerenciamento de ansiedade. Melhor gestão do estresse e regular as emoções podem ser prioridades para os adultos mais jovens.  Desempenho da memória pode ser uma prioridade mais tarde na vida.

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SUPERA: De acordo com estes estudos, que atividades podemos fazer para melhorar nosso desempenho cognitivo?

Solange Jacob – As atividades do dia a dia são importantes fontes de estimulação, e o envolvimento em atividades complexas parece estar relacionado a maior nível de estimulação cognitiva. Atividades intelectuais e sociais são fatores de proteção em relação ao envelhecimento patológico e o envolvimento em atividades de baixa complexidade representa risco para o desenvolvimento de quadros demenciais.

Mais recentemente, a equipe de Carlson (2012) sugeriu em sua pesquisa, publicada no “Journal of the International Neuropsychological Society”, que seria importante considerar, além do nível de complexidade, a diversidade das tarefas nas quais o indivíduo está envolvido. Uma maior variedade de participação em atividades, independentemente do desafio cognitivo, foi associada a uma redução no risco de comprometimento da memória verbal e resultados cognitivos globais.

A participação em uma variedade de atividades de estilo de vida mostrou mais resultados do que a frequência ou o nível de desafio para reduções significativas no risco de comprometimento cognitivo.

Os resultados deste estudo oferecem novas perspectivas para a criação de um repertório diversificado de atividades para atenuar o declínio cognitivo relacionado com a idade.

Isto é o que trabalhamos hoje na metodologia SUPERA, oferecendo aos alunos um conjunto de atividades variadas e complexas, que visam trabalhar tanto as habilidades cognitivas como memória, foco e concentração, quanto as competências socioemocionais previstas para Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE):

Espírito inovador e colaborativo

Estar aberto a novas ideias e lidar com desafios

Imaginação criativa

Trabalho em equipe

Estabelecimento e atendimento de regras

Comunicação

Superação de conflitos

Competição saudável

Lidar com o ganhar e o perder (tolerância à frustração, ao estresse)

Autoconfiança

Autoestima

Iniciativa social

Assertividade

Entusiasmo

Resiliência.

SUPERA: Quais sãos as evidências científicas que temos até hoje sobre a estimulação cognitiva?

Solange Jacob – Ainda com relação aos estudos, existem obstáculos a superar, especialmente no que diz respeito aos efeitos duradouros de treinamento cognitivo sobre tarefas cognitivas diárias e qualidade de vida. No entanto, os estudos revisados já mostram progressos consideráveis para atingir esses objetivos. Em particular, os avanços na melhoria da transferência da tarefa treinada para outras tarefas (estudos em laboratório) são indicadores promissores para dar o próximo passo, a transferência para as atividades diárias da vida.

Estudos científicos mais atuais comprovam, em específico, o impacto de treinamento em memória operacional em ampliar a capacidade cognitiva do indivíduo.

As alterações relacionadas com o treinamento na atividade cerebral e na estrutura cerebral também fornecem evidências convincentes de que a estimulação cognitiva não apenas resulta em uma mudança sutil, de tarefas específicas – estas são mudanças fundamentais nos mecanismos biológicos subjacentes ao desempenho cognitivo.

Os dados atualmente conhecidos levam a crer que estilos de vida que combinem atividades cognitivas estimulantes com atividades físicas, controle nutricional e uma boa rede social oferecem a melhor chance de preservação da atividade cognitiva na idade madura.

Com relação à eficácia dos programas de treinamento, isto depende em parte de como definimos o “sucesso”. Numerosos estudos têm mostrado que os jovens adultos podem se beneficiar mais de programas de treinamento do que os adultos mais velhos. Dado que a capacidade de plasticidade parece diminuir com a idade, não é de surpreender que os adultos jovens sejam os preferidos para mostrar maiores benefícios do treinamento.

 

SUPERA: Podemos afirmar que ginástica cerebral previne o Alzheimer?

Solange Jacob – Não há cura para a doença até o momento. No entanto, a combinação de medicamentos adequados, terapia ocupacional e estimulação cognitiva podem retardar a progressão dos sintomas de demência vascular ou doença de Alzheimer. Pessoas com mais capacidade cognitiva natural e adquirida (cultura, estudos acadêmicos, participação e atividades intelectuais e sociais, como jogos de mesa, desafios cognitivos, etc.,) podem apresentar a enfermidade mais tarde do que aquelas com menos reserva cognitiva, mesmo quando tem em seu cérebro a mesma quantidade de lesões cerebrais típicas da doença de Alzheimer. A ideia por trás da reserva cognitiva é que o cérebro tenta compensar ou suportar as mudanças provocadas por degeneração ou patologia. Só que esta capacidade é diferente para as diferentes pessoas.

O Projeto Saúde Cognitiva e Emocional encomendado pelos Instituto Nacional da Saúde (NIH – National Institutes of Health), definiu o envelhecimento cognitivo e emocional bem sucedido como “o desenvolvimento e preservação das estruturas cognitivas multidimensionais que permitem que os adultos mais velhos possam manter a conexão social, uma sensação contínua de propósito, as habilidades para funcionar de forma independente para permitir recuperação funcional de doença ou lesão, e lidar com déficits funcionais residuais”.  Assim, o bem-estar cognitivo e emocional são indissociáveis.

Desta forma, uma intervenção de base na plasticidade cerebral, considerando o declínio cognitivo normal relacionado à idade, pode potencialmente oferecer benefício para uma ampla população de adultos mais velhos. À capacidade que o sistema nervoso tem de reorganizar a sua estrutura, suas funções e suas conexões em resposta a estímulos externos ou internos, chamamos de neuroplasticidade.

  1. MARCOS ANTONIO DE OLIVEIRA disse:

    Parabéns pela entrevista e cada vez mais essa máquina chamada cérebro me impressiona. Quero apenas deixar uma pergunta: Quando, Solange, você menciona “reserva cognitiva”, o que vem a ser isto de fato?
    Ela é um tratamento preventivo para futuros declínios mentais? Muito obrigado, prof. Marcos.

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