Os neuromitos da educação

Neuroeducação, um campo que faz a ponte entre a neurociência e a educação, tem sido fundamental nas pesquisas sobre a ciência do cérebro aplicada em sala de aula.  Mas o que acontece quando as descobertas da neurociência são levadas longe demais? Paul Howard-Jones, pesquisador do Centro de Mente e Cérebro em Contextos Educacionais e Sociais da Universidade de Bristol, no Reino Unido, adverte que neuromitos, ou o “equívoco gerado por um mal-entendido, uma leitura errada, ou uma citação errônea de fatos cientificamente estabelecidos por pesquisas sobre o cérebro” são mais difundidos no campo educacional do que poderíamos pensar. Além disso, os neuromitos podem, em última análise, irem contra o trabalho educacional.

“Há uma crescente consciência do fato de que esses equívocos científicos têm proliferado na comunidade educativa, e eles são bastante difundidos”, diz Howard-Jones.

Em uma pesquisa com educadores de todo o Reino Unido, Holanda, Turquia, Grécia e China, Howard-Jones revelou que os professores acreditavam em neuromitos, inclusive na ideia de que os seres humanos usam apenas 10% da capacidade cerebral e que as crianças são menos atentas após o consumo de lanches açucarados.

Os resultados foram publicados na renomada revista científica Nature em outubro de 2014. Howard-Jones acredita que a neurociência tem definitivamente um lugar na sala de aula, bem como o poder ensinar. Mas para que isso aconteça, os cientistas precisam ajudar os educadores a separar o “trigo do joio”.

“Geralmente, há uma semente da verdade subjacente a todos esses mitos quando você vasculha e tenta entender de onde eles vêm”, diz Howard-Jones. “Mas o fato de serem distorcidos é preocupante. Ao mesmo tempo, há algumas informações valiosas sobre o cérebro que podem ser aliadas em sala de aula, se encontrarmos uma maneira eficaz de nos comunicarmos”, completa.

Na tentativa de fazer exatamente isso, aqui estão alguns neuromitos destacados por Howard-Jones em uma discussão sobre sua origem, bem como o que as descobertas da neurociência que se baseiam em fatos reais pode nos dizer sobre a cognição e o desempenho humano.

1. Os seres humanos usam apenas 10% do cérebro;
2. Comer lanches açucarados resulta em hiperatividade e reduz o foco e a atenção;
3. Diferenças na dominância cerebral esquerda ou direita provocam comportamentos e atitudes diferentes nas pessoas;
4. Os adolescente não conseguem controlar seus impulsos em sala de aula;

A Necessidade de Comunicação e Colaboração

Para Howard-Jones, a neurociência vai continuar avançando nos estudos neste sentido e contribuir no campo educacional. E por causa de sua relevância, é ainda mais importante que os neurocientistas e educadores trabalhem juntos nos problemas para que possam auxiliar os professores em sala de aula de uma maneira científica.

“As tentativas de comunicação genuinamente entre neurociência e educação estão acontecendo mais e mais, e isso é uma coisa muito boa. Mas nós vemos as distorções que ocorrem. E alguns dos problemas que estão surgindo na forma como essas comunicações são interpretadas realmente ecoam nos processos pelos quais surgem os neuromitos”, diz ele. “Quero enfatizar que se trata de um verdadeiro desafio para cientistas e educadores. E é um desafio que vai exigir muita colaboração, inclusive, incluir a neurociência na formação de professores e a construção de mensagens por professores e cientistas sobre o que esses tipos de resultados realmente significa em um contexto educacional”, completa.