Ensino de empatia na escola: Como fazer esse trabalho
“Ação de se colocar no lugar do outro” é, basicamente, o conceito de “empatia” trazido pelos dicionários de português. Trata-se da capacidade de reconhecer os sentimentos da outra pessoa, bem como suas dificuldades diante de uma determinada situação. O termo é curto, contém apenas sete letras, mas possui um significado enorme,não é mesmo? Tanto que está entre as dez competências gerais, mencionadas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que devem ser promovidas para alunos do ensino infantil, fundamental e médio.
De acordo com o documento, é dever dos atores implicados no processo educativo: “Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza”.
Leia também: Base Nacional Comum Curricular (BNCC): como entendê-la de forma simples.
A importância de desenvolver a empatia na escola
A BNCC salienta que a empatia é a capacidade “buscar compreender razões, sentimentos e emoções para estabelecer uma relação de cooperação e de compreensão pela maneira como o outro age e toma decisões”. A Base Nacional também expõe que para exercer tal habilidade, é necessário saber ouvir, ter vontade de conhecer o outro e a si próprio, e não fazer julgamentos baseados unicamente na experiência pessoal.
Trabalhar a empatia na escola é uma das principais formas de influenciar positivamente as crianças e adolescentes a respeito da maneira que irão olhar para o outro. Através desse trabalho, é possível formar jovens mais compreensivos com as realidades alheias, influenciar suas ações e, até, evitar o bullying — ou seja, a prática de atos violentos, intencionais e repetidos (sejam eles físicos ou verbais), que podem causar danos físicos e psicológicos às vítimas — e os efeitos negativos que são causados por ele.
Mas, como desenvolver, de fato, a empatia na escola?
Quando se planeja trabalhar a empatia na escola, é preciso começar incluindo-a na rotina escolar, ou seja, na forma como os gestores, professores e demais funcionários lidam com as situações no ambiente de ensino. Ela precisa fazer parte dos princípios e da cultura da escola.
Nesse sentido, a BNCC traz alguns questionamentos para a reflexão dos gestores, tanto em relação à gestão escolar, quanto pedagógica.
Em relação a gestão escolar, o documento questiona:
- O clima institucional é de cooperação, colaboração, busca de resolução de conflitos e trabalho em equipe?
- São planejadas ações para a melhoria do clima escolar?
- Há planejamento de situações nas quais as relações e as interações entre alunos, professores, funcionários e familiares ocorram de modo respeitoso e acolhedor, contemplando todos e cada um?
- A atitude da dupla gestora (diretor e coordenador) é de reconhecimento e valorização da diversidade?
- O diretor e o coordenador se colocam no lugar do outro para compreender seu ponto de vista?
- O PPP [Projeto Político Pedagógico] da escola é realizado em equipe, de maneira planejada e colaborativa?
- É compartilhado com os responsáveis para que possam opinar, comentar e fazer proposições?
- A dupla gestora dialoga diretamente com os alunos quando ocorrem situações de desrespeito entre os participantes do universo escolar?
- A equipe escolar debate coletiva e democraticamente sobre como abordar problemas de indisciplina, furtos, violência, assédio, drogas, bullying?
Já no que diz respeito à gestão pedagógica, a BNCC pergunta:
- São organizados momentos de planejamento coletivo de modo a evidenciar a necessidade de compromisso e cooperação de toda a equipe docente?
- Um professor colabora com outro em momentos de dificuldade?
- Eles são incentivados e contam com as condições institucionais para isso?
- O coordenador pedagógico é atento ao grupo e traz contribuições em função das necessidades e interesses individuais dos professores?
- O mesmo ocorre entre os docentes?
- Os professores são orientados a estimular o diálogo tanto em situação de estudo como de conflito entre os alunos?
- No intervalo entre as aulas, no recreio, em passeios ou festas, o diálogo, a negociação de decisões e o respeito às regras de convivência são instigados?
- A coordenação orienta os professores para a tomada de posição não discriminatória diante de situações de preconceito contra raça, etnia, nível econômico ou religião?
Só depois de observadas, analisadas e ajustadas essas primeiras demandas — e com a cultura da empatia na escola já inserida na rotina e nos processos de gestão da instituição — é que todos estarão devidamente preparados para trabalhar essa habilidade diretamente com os alunos, por meio de algumas práticas.
Dentre as atividades que ajudam a desenvolver a empatia na escola, estão, por exemplo:
Conversas sobre sentimentos
Quando os professores reservam um tempo em sala de aula para conversar abertamente, e em grupo, sobre os sentimentos de cada um dos alunos da turma, ele está ajudando o estudante a perceber que existem realidades diferentes da dele. E também que, mesmo que vivam situações iguais ou muito parecidas, as pessoas não sentem ou reagem às circunstâncias da mesma forma.
E tudo isso precisa ser respeitado.
Atividades lúdicas
Algumas atividades lúdicas são uma boa ferramenta para o desenvolvimento da empatia na escola desde cedo. Um exemplo, aqui, é a contação de histórias que possuam personagens (muitas vezes, animais) que passam por algumas dificuldades e precisam enfrentar diversos obstáculos em suas jornadas.
Brincadeiras em grupo
As brincadeiras em grupo — como é o caso de alguns esportes e outros jogos — estimulam o trabalho em equipe, e contribuem para os estudantes criarem, justamente, a noção de como é ser um grupo. Essas atividades ajudam os alunos a aprenderem a observar seus colegas, reconhecerem as dificuldades e habilidades individuais de cada um, desenvolver o senso de tolerância e, diante de tudo isto, pensarem e agirem da melhor forma em benefício do todo — mas, sempre respeitando as diferenças individuais.
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